Uma derrota para a Alemanha em uma semifinal de Copa do Mundo é normal.
Uma derrota por goleada de 7 a 1 da seleção brasileira na semifinal de Copa do Mundo jogando em casa, não.
Antes de analisar o fator psicológico - que novamente pesou em um elenco formado por jovens atletas - é preciso ter consciência que o Brasil teve sérios problemas táticos neste Mundial.
Tanto, que o único jogo em que atuou relativamente bem foi o quinto, nas quartas de final, na vitória por 2 a 1 sobre a Colômbia. É o preço que se paga por descansar muito e treinar pouco, em um torneio de tiro curto.
O primeiro gol alemão na semifinal, marcado por Thomas Müller, escancarou as falhas defensivas, por ter ficado livre na grande área para chutar, após cobrança de escanteio.
O que se viu a partir daí foi um total desequilíbrio. Quatro gols em seis minutos.
Miroslav Klose (artilheiro absoluto das Copas com 16 gols, passando Ronaldo), Toni Kross duas vezes e Khedira. No segundo tempo Schürrle marcou mais duas vezes e Oscar descontou, fazendo o gol de honra brasileiro.
Em cem anos a seleção brasileira sofre sua pior derrota da história.
E pelas circunstâncias que foi o placar, nem se Thiago Silva e Neymar estivessem em campo, conseguiriam resolver algo. Talvez a goleada fosse menor, mas ao mesmo tempo inevitável.
O
desastre parecia questão de tempo, e ele poderia ter ocorrido já nas oitavas,
contra o Chile, quando o Brasil teve mais sorte que juízo com a bola de Pinilla
no travessão nos últimos minutos da prorrogação.
Formada por um elenco jovem, a maioria dos atletas que defenderam a seleção
brasileira neste ano, terá plenas condições de voltar a uma Copa em 2018, na
Rússia. Alguns nomes serão substituídos, é verdade. Mas a base está formada.
Uma
derrota como essa dói, machuca o torcedor, mas também serve para ensinar muito
ao futebol brasileiro e ao país como um todo. As conquistas não vêm por acaso,
é preciso esforço e dedicação. Não dá para ser aos trancos e barrancos, no tal
"jeitinho brasileiro". Serve para o torcedor e a mídia pacheca ter
consciência de que futebol é momento e o Brasil não tem o melhor futebol
coletivo em todos os momentos. Nem todo grande time tem craques, nem todos os
craques formam um grande time.
Apontar
os culpados parece fácil. Todos perdem. Jogadores, comissão técnica,
dirigentes. Mas fazer isso nesse momento é injusto. Pegamos como exemplo o
goleiro Barbosa, da Copa de 50, que jamais foi perdoado pela torcida pelos dois
gols que sofreu diante dos uruguaios.
Aqui
cabe um parêntese para a CBF, que trocou o técnico Mano Menezes em um momento
que ele parecia ter encontrado uma fórmula de jogo ideal, por Luiz Felipe
Scolari, campeão em 2002, multicampeão com Grêmio e Palmeiras, mas que não
procurou se renovar. E o futebol muda a todo instante.
O
objetivo da CBF era claro: após perder as Olimpíadas de 2012, Mano Menezes
perdera também o pouco de prestígio que tinha, e o presidente da entidade, José
Maria Marin, tentando lavar suas mãos, trouxe um nome de grande carisma, e caso
o título mundial não viesse, como de fato não veio, não seria por falta
de um nome de peso.
Conquistou
a Copa das Confederações, numa ótima exibição contra a Espanha na final, e isso
fez com que o time vivesse uma ilusão.
A
Copa das Confederações é tão parâmetro para a Copa do Mundo, como os estaduais
são para o Campeonato Brasileiro. Ou seja, nenhum. E o Brasil ganhou as últimas
três, caindo consequentemente nas últimas três Copas antes da final.
Não é por causa dessa derrota que precisa-se repensar o futebol brasileiro.
Ele carece desa análise há muito tempo. Desde a base, o campeonato interno,
seus dirigentes, a filosofia ultrapassada de seus treinadores, etc.
O
Brasil segue sendo, entre os principais campeões mundiais, o único que não sabe
o que é vencer em casa. A Espanha também não sabe, mas sediou até hoje apenas
uma Copa. Essa foi a segunda no Brasil.
E
que ótima Copa estamos tendo dentro de campo. A lamentar somente a queda do
viaduto em Belo Horizonte, que matou duas pessoas e deixou outras tantas feridas.
Agora é juntar os cacos, e conseguir forças para disputar o terceiro lugar, contra o perdedor de Holanda x Argentina, sábado (12), às 17h, em Brasília.
Nem
no chamado Maracanazo, como ficou conhecida a derrota de 2 a 1 para o Uruguai,
no Maracanã em 1950, o vexame foi tão grande. Pois aquela era uma derrota
possível e compreensível.
Aliás,
passa-se a Copa e o Brasil fica sem jogar no principal estádio do país.
Parabéns a quem fez a tabela da Copa.
Pena
que ela está acabando.