segunda-feira, 12 de julho de 2010

Espanha, campeã com méritos




É unanimidade. Todos os comentaristas, cronistas, jornalistas (como quiserem) que li, assisti e ouvi, sobre o jogo de ontem disseram a mesma coisa: a Espanha mereceu o título da Copa do Mundo. Vou no mesmo embalo. Afinal de contas, apesar de eu gostar bastante do futebol de resultado, a Espanha provou que jogar bonito não significa placares elásticos.


Foi a campeã mundial com a pior média de gols de todas as outras sete seleções que já ergueram a taça. Foram oito gols, em sete jogos, o que dá 1,14 gol por partida. E também a seleção espanhola - que não mais deverá ser chamada de Fúria, mas sim de Roja (vermelha) - foi a única campeã que começou perdendo uma Copa do Mundo, na derrota por 1 a 0 para a Suíça. Derrota esta que se não alterou a maneira de jogar dos espanhóis, pelo menos fez crescer uma certa desconfiança no time tido como franco favorito ao título. Como de fato se concretizou.


A Holanda, esta estava irreconhecível. Pelo menos para aqueles que puderam acompanhar os grandes momentos da Laranja Mecânica, vice-campeã em 1974 e 78, o que não foi o meu caso. Não jogava mais um futebol vistoso, mas sim pragmático, onde o ideal para eles era ganhar, não importasse como. Nesta brincadeira, abusou dos contra-ataques e do jogo sujo. Fez mais falta do que o normal e muita gente merecia ter sido expulsa logo no começo de jogo. Era o caso de Nigel de Jong, ao acertar um chute no peito de Xabi Alonso.


A Holanda teve chance de vencer, verdade seja dita. Não fosse os gols desperdiçados pelo atacante Robben. Desperdiçados ou méritos do goleiro Casillas, aquele que beijou a namorada jornalista? Sim, desperdiçado, afinal, atacante está lá para fazer gol e, teoricamente, a missão do goleiro é sempre mais difícil. Portanto foi um pouco dos dois. Méritos do goleiro e demérito total de Robben.


Foi uma final em que não dava para se dizer "quem não faz, leva". Nenhum dos dois fazia. Mas a Espanha fez. Aos 11 minutos do segundo tempo da prorrogação. Iniesta recebeu passe de Cesc Fàbregas e estufou as redes holandesas. O gol, vale lembrar, talvez só tenha saído porque o árbitro inglês, Howard Webb deixou de marcar um escanteio legítimo para a Holanda no lance anterior.


Fato é que o gol valeu, a posição de Iniesta (apesar da reclamação dos jogadores de laranja) era legal e a Fúria, ou melhor Roja para simbolizar o toque de bola desta nova geração, é a nova campeã do mundo! E a Holanda, bem, a Holanda é vice pela terceira vez. Nisto - e somente nisto - a Holanda de hoje se parece com a Holanda dos anos 70.


E não foi apenas pelo conjunto mostrado dentro de campo que a Espanha mereceu o título. Mereceu porque o país das touradas (as quais acho a pior prática daquele lugar) vem se destacando nos esportes profissionais nos últimos anos. É assim no tênis, na F-1, no basquete, no ciclismo e no motociclismo. É assim também no futebol.


Esta Copa do Mundo deixará saudades, claro. Como toda Copa deixa. "Ah, mas a média de gols foi baixa e os erros de arbitragem foram grotescos", alguns vão dizer. Ok, mas não é todo ano que vive-se 30 dias seguidos de puro futebol. Bom futebol, sim. Principalmente a partir das oitavas de final. Deverá deixar saudade, principalmente, ao país da África do Sul. Pelo povo que lá vive, pelos estádios modernos (que se não estavam todos prontos, pelo menos não deram vexame), pelas vuvuzelas, pela dança dos Bafana-Bafana. Enfim, por ser na África.


O Brasil tem muito a aprender (e fazer) daqui a quatro anos, se quiser ter uma Copa tão boa quanto. Melhor, não sei se será possível. Perdi a confiança em meu país há muito tempo. Mas tenho certeza que o mínimo de esforço deverá ser feito. Brasileiro não é bobo, só tem memória fraca. Os responsáveis pelo evento por aqui irão lembrar facilmente das pressões da FIFA e deverão entregar tudo em dia. Se não fizerem, será a maior vergonha do planeta. Simples assim.


Ah, e para encerrar o assunto, gostaria de dizer que Diego Forlán, do bom e guerreiro Uruguai, (4º colocado, assim como em 1954 e 70) foi eleito o melhor jogador da Copa. Casillas o melhor goleiro, Müller da terceira colocada Alemanha foi o artilheiro com cinco gols e três assistências (Forlán-URU, David Villa-ESP e Snjeider-HOL também tiveram cinco gols) e a Espanha foi premiada com o prêmio de Fair Play. Enfim, tudo muito justo. Como se espera em uma atividade esportiva.

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