segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

A humildade de Andrade fez a diferença neste Brasileiro

Andrade: a postura de um treinador em ascenção


Andrade assumiu interinamente o comando técnico do Flamengo após a 13ª rodada, com a demissão do técnico Cuca, que depois foi para o Fluminense e conseguiu uma recuperação heróica no time das Laranjeiras, livrando-o do rebaixamento. Na ocasião, o Flamengo ocupava a 11ª posição, com 17 pontos. 25 rodadas depois, o time rubro-negro terminou o Campeonato Brasileiro como campeão, tendo conquistado 50 pontos a mais, fechando em 67, dois a mais que o segundo e terceiro colocado, Internacional e São Paulo, respectivamente.



Jorge Luis Andrade da Silva só foi efetivado como treinador flamenguista na terceira partida após a queda de Cuca. Antes vencera as outras duas, contra o Santos por 2 a 1 (no jogo de número mil do Flamengo em Campeonatos Brasileiros), quebrando um tabu de vitórias na Vila Belmiro em nacionais e contra o Atlético-MG, no Maracanã, por 3 a 1. Na estreia como treinador de fato, não foi bem e apenas empatou em casa com o Náutico por 1 a 1.



Andrade já é, há muito tempo, funcionário da casa. Marcou sua carreira como jogador de futebol atuando com a camisa rubro-negra na década de 80, jogando ao lado de craques como Zico e Júnior, conquistando quatro Brasileiros como jogador do Flamengo e um com o Vasco da Gama. Por muitos anos foi auxiliar-técnico flamenguista e desde 2004 já assumiu o comando do clube por sete vezes, sendo cinco como interino. Livrou a equipe do rebaixamento naquele ano. Seu jeito humilde cativou a grande maioria de torcedores, mas não o livrou de algumas atitudes racistas, vindas de membros da própria diretoria.



Segundo reportagem publicada pelo jornal Folha de SP neste domingo (6), Andrade por pouco não foi efetivado no cargo em 2004, mostrando que a vontade de tê-lo como treinador não é de hoje. Mas, de acordo com a matéria, Junior, que na época era gerente de futebol, ouviu alguns comentários de dirigentes do clube, os quais afirmavam que além da inexperiência no cargo, diziam ser um "negro sem boa dicção".



A conquista de Andrade - foi o primeiro treinador negro a conquistar o Campeonato Brasileiro - certamente abrirá portas para uma nova geração de treinadores que não estamos acostumados a ver no cenário futebolístico. Por mais absurdo que isso possa parecer, já que o Brasil é o país com maior número de afrodescendentes da América Latina.



Segundo o pesquisador Luciano Cerqueira, coordenador da campanha "Mande um cartão vermelho para o racismo no futebol" e entrevistado pela reportagem da Folha, o mesmo pensamento da sociedade, reina também no futebol. "O negro pode ocupar determinados espaços, mas não outros. Pode jogar, estar na comissão técnica, mas não ser o comandante, o cara que tem as ideias", afirma Cerqueira na entrevista.



Andrade pretende, com seu título, dar mais oportunidades a ex-jogadores de futebol serem treinadores. Sereno e de atitudes passivas, pouco se vê o treinador gesticular à beira do gramado, ou gritando, dando alguma orientação. Mesmo assim, o time o obedece e reproduz aquilo que fora treinado durante a semana. Interferiu no esquema tático com três zagueiros que a equipe vinha mantendo desde 2007. Deu maior posicionamento a determinados jogadores e soube aproveitar o que cada um tinha de melhor a oferecer. Foi assim que de desacreditado, Adriano se tornou artilheiro da competição com 19 gols, ao lado de Diego Tardelli do Atlético-MG. O sérvio Petkovic passou a jogar como nunca, lembrando as atuações de sua primeira passagem pelo time da Gávea.



E foi assim, ao melhor estilo mineiro, "comendo pelas beiradas", que o treinador de 52 anos conquistou o Brasil e sonha agora com voos mais altos. O mercado passou a olhá-lo com outros olhos, e caso o Flamengo não renove rapidamente seu contrato, outros times poderão fazer propostas. É um treinador da nova geração, o qual demorou a ter seu devido reconhecimento, mas agora, basta saber aprovetá-lo para colher bons frutos na carreira.
Foto: Agência Estadual de Notícias do RJ

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