sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

O homem por trás do bigode é Luis Felipe


Explosivo sempre: Felipão comemora vitória de seu Portugal sobre Holanda na Copa 2006


A história da família Scolari – muito antes do termo ser usado pelo treinador às equipes as quais comanda – começa no final do século XIX, em 1891. Foi quando a bisavó paterna de Luis Felipe Scolari, o Felipão como muitos gostam de chamar, desembarcou na pedra do porto de Rio Grande. Viúva e mãe de seis filhos, dona Luigia Bellini Scolari passou a viver no Brasil, após deixar a cidade de Verona, na Itália; e escolheu o estado do Rio Grande do Sul para construir uma nova vida.

O caçula da família Scolari era Luigi, que depois passou a se chamar Luis. Luis cresceu e se casou com Genoveva, teve quatro filhos e com ela se mudou para a Granja Scolari, em Passo Fundo, interior do RS. A propriedade tinha pouco mais de 70 hectares e ficava a quatro quilômetros do centro da cidade.

Foi lá que em 9 de novembro de 1948 nasceu Luis Felipe Scolari. Scolari foi o primeiro filho homem de Leda e Benjamim (filho de Luis e Genoveva, os avós de Felipão). Benjamim saiu com a família da Granja Scolari, mudou-se para o centro de Passo Fundo e montou o Bar Bolão Snooker Scolari. Como não poderia deixar de ser, Benjamim gostava de jogar futebol. Era zagueiro, mas diferente do que viria a ser o filho no futuro, seu estilo era um pouco mais elegante.

Felipão cresceu e seus pais o colocaram na escola marista Nossa Senhora da Conceição. A primeira relação de Scolari com a bola se deu no embarrado campo do colégio. Os padres bem que tentavam ensinar a Luis Felipe algo relacionado a letras e números, mas a paixão do guri era outra. Queria mesmo era ser jogador de futebol.

Mas não tinha muito talento, como retrata alguns amigos da época. “Ele era uma nulidade como jogador. Mas se superava pela determinação: tinha muita garra, não se acovardava e não gostava de perder”, relata um ex-colega. Airbal Corralo, primeiro professor de Educação Física do futuro atleta também concorda. “Sem dúvida, ele não era o melhor tecnicamente. Mas chamava a atenção pela disciplina e pela assiduidade”, afirma o professor.

Ao se mudar para Canoas, junto com a família, Scolari deu início à carreira futebolística. Parecendo ser uma previsão do que viria alguns anos depois, começou a jogar justamente pelo...Grêmio! Mas era o Grêmio São Cristóvão. Porém isso foi nos tempos de futebol amador. Em 1968, a poucos meses de completar 20 anos, assinou seu primeiro contrato profissional, no Aymoré/RS, de São Leopoldo. Quem o aprovou no primeiro teste foi ninguém menos do que Oswaldo Rolla, o Foguinho, ídolo nas décadas de 20 e 30 no Grêmio, tendo virado treinador anos depois.

Felipão foi titular na zaga do Aymoré até 1973. Há quem diga que nesse período arrancou boa parte da grama que tinha no estádio Cristo Rei. Talvez tentando deixá-lo um pouco mais parecido com o gramado onde começou a dar os primeiros toques (chutes) na bola, em Passo Fundo.

De 1973 a 1979 jogou no Caxias. Transformou a equipe da Serra Gaúcha na terceira maior força do estado. Foi eleito por jornalistas em 1978 como o melhor zagueiro do Campeonato Brasileiro. Eliminou o Flamengo em pleno Maracanã após empate em 1 a 1. E por fim, terminou o Brasileirão de 79 na oitava posição.

Encerrou a carreira de jogador em 1982 no CSA, do Alagoas. E foi na própria equipe alagoana que começou a trabalhar como treinador. Era o início de uma carreira que seria de muito sucesso e conquistas. Em 83, retornou ao estado de origem e comandou as equipes do Juventude e Brasil de Pelotas. Teve sua primeira experiência internacional no Al Shabab, da Arábia Saudita em 1984. Envolveu-se em algumas brigas com os xeques de lá, por quererem se intrometer na escalação de seu time. De volta ao Brasil e comandou o Pelotas, Juventude e Grêmio (primeira passagem pelo Tricolor Gaúcho), onde foi campeão estadual em 1987. Após uma rápida passagem pelo Goiás, retornou ao Oriente Médio.

No Kuwait, Scolari dirigiu o Al Qdsia e a seleção local, em 1990. Em 1991, com o Criciúma, conquistou seu primeiro título nacional, a Copa do Brasil, em cima do Grêmio após dois empates (1 a 1 em Porto Alegre e 0 a 0 em Criciúma). Não ficou para comandar o time catarinense na Libertadores de 92, pois ainda em 91 foi para a Arábia Saudita comandar o Al Ahli. No ano seguinte, novamente treinou o Al Qdsia do Kuwait. Mas foi a partir de agosto de 1993 que começou a ser reconhecido em todo o Brasil.

Foi quando começou a montar a super equipe do Grêmio, campeão de praticamente tudo o que disputou. Gauchão (1995 e 96), Copa do Brasil (94), Libertadores (95), Brasileirão (96) e Recopa Sul-Americana (96). Só não ergueu o troféu do Mundial Interclubes de 95, pois perdera nos pênaltis para o poderoso Ajax, com praticamente todos os jogadores fazendo parte da seleção da Holanda.

Do Grêmio foi para o Japão, comandar o Júbilo Iwata, em 1997. No mesmo ano assinou contrato com o Palmeiras, onde foi vice-campeão brasileiro. Em 98 veio o título da Copa do Brasil (o terceiro da carreira) e da Copa Mercosul. Entrou para a história do clube alviverde ao dar o primeiro título da Libertadores, em 1999. Mas novamente não teve sucesso no Mundial de Clubes, perdendo a decisão para o Manchester United, da Inglaterra. Derrota por 1 a 0.

Em 2000, chegou novamente à final da Libertadores com o Palmeiras, mas caiu diante do argentino Boca Juniors. Depois disso foi para o Cruzeiro, onde conquistou a extinta Copa Sul-Minas, em 2001, seu último título em clubes brasileiros.

Aconteceu então o que muitos esperavam. Passando por dificuldades nas Eliminatórias Sul-Americanas para a Copa do Mundo de 2002, a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) não teve dúvidas e chamou Felipão para o comando da seleção brasileira de futebol. Mas o sucesso não veio de imediato. Antes ocorreram algumas decepções, como a eliminação nas quartas-de-final da Copa América perante a fraca equipe de Honduras. A classificação ao Mundial só veio na última rodada. Além disso, a insistência em não convocar o atacante Romário, mesmo com o apelo da torcida e a aposta em Ronaldo, que vinha se recuperando de duas lesões graves no joelho, aumentaram a desconfiança sobre o treinador. Elas sumiram apenas após a sétima vitória em sete jogos da Copa do Mundo da Coreia e do Japão e a conquista do pentacampeonato mundial.

Felipão preferiu não continuar na seleção brasileira, seu objetivo havia sido alcançado. Aceitou o convite de Portugal e revolucionou o futebol daquele país. Foi vice-campeão da Eurocopa de 2004, disputada em Portugal e que encheu de orgulho o povo português. Após classificação tranquila nas eliminatórias europeias, terminou a Copa de 2006, na Alemanha, em quarto lugar. Caiu nas quartas-de-final da Eurocopa de 2008.

Foi chamado pelo clube inglês Chelsea, mas não obteve sucesso na terra da rainha Elizabeth II. Alguns jogadores do clube londrino fizeram um complô contra Scolari, forçando sua demissão, que apesar de não fazer grande campanha no Campeonato Inglês, vinha bem na Liga dos Campeões da Europa, onde começaria a fase de mata-mata, especialidade de Scolari. Atualmente está no Bunyodonkor, do Uzbequistão, onde joga o meio-campista Rivaldo. Já conquistou o campeonato local, mas foi eliminado da Copa dos Campeões da Ásia. Sondado pela Juventus, da Itália, recusou o convite, dizendo-se estar satisfeito com suas condições de trabalho e pretende terminar seu contrato, no final de 2010. Possui planos de retornar ao Brasil. Certamente propostas não faltarão.

Bibliografia
BUENO, Eduardo, Grêmio - Nada Pode Ser Maior, Ediouro, Rio de Janeiro, 2005

http://www1.folha.uol.com.br/folha/esporte/ult92u501126.shtml

Um comentário:

  1. Oi Bruh! Não sabe o quanto fico feliz em ver a sua evolução no jornalismo esportivo, tal qual a evolução de Scolari no futebol, como vc tão bem retratou aqui!

    Sabe o que eu mais gosto de biografias? Essa "humanização" que ela provoca nos ídolos. Vc para e pensa: o "cara" hj é o "cara", mas começou como todo mundo e "chegou lá". Me motiva, me faz sentir mais próxima da pessoa que teve sua vida retratada. Eu, por exemplo, nem sabia que o Felipão já tinha dado o "ar da graça" aqui no Goiás (o time, rsrs)!

    Enfim, quê dizer? Seu talento é incontestável e eu quero estar aqui, de camarote, vendo sua evolução! Parabéns pelo post e pela sua determinação. O Blog está cada vez melhor!

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